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Relação entre acidentes do trabalho e ergonomia

Os acidentes de trabalho trazem consequências políticas, econômicas e sociais e tem se tornado uma pauta cada vez mais presente nas empresas devido aos seus impactos negativos.

O acidente de trabalho é toda e qualquer ocorrência que cause lesão corporal ou distúrbio funcional durante o exercício da atividade laboral, no trajeto de ida e volta para o local de trabalho ou doença adquirida devido às condições de trabalho.

Em 2021, o ENAP (Escola Nacional de Administração Pública) divulgou um estudo sobre os Custos Financeiros dos Acidentes de Trabalho no Brasil, onde mostrou que o valor gasto em função da incapacidade gerada por acidentes de trabalho não fatais chegou a 2 bilhões de reais em 2019. Já o valor gasto com relação aos acidentes fatais foi de 1 bilhão de reais no mesmo ano.

O estudo considerou custos diretos como benefícios previdenciários, internações no SUS e desembolsos do FGTS, e custos indiretos como renda perdida em decorrência do acidente, valor associado às mortes prematuras e à redução da capacidade funcional. A soma dos custos diretos e indiretos alcançaram o valor de 15,1 bilhões de reais em 2019. Os benefícios previdenciários concedidos em virtude dos acidentes de trabalho representaram o maior custo, totalizando uma soma de 11,9 bilhões de reais. Trata-se de um problema de saúde pública com repercussões econômicas e sociais graves a longo prazo, especialmente para o orçamento previdenciário brasileiro.

Paradigma dos acidentes do trabalho

E o que nos leva a ter esses dados tão alarmantes? Quais são as causas desses acidentes de trabalho? Para chegarmos a essa respostas é preciso compreender em quais contextos as empresas e os trabalhadores estão inseridos até chegar ao acidente. E para isso irei discutir a respeito do principal paradigma sobre os acidentes de trabalho: o de que a principal causa dos acidentes está relacionada à falha humana. Essa crença por muitos anos fez parte da maioria das empresas e profissionais da área de segurança, e por muito tempo foi a principal conclusão ao final das investigações após os acidentes. Entretanto, essa forma de pensar tem sido transformada e bastante questionada depois de muitos estudiosos aprofundarem sobre este tema. Tem-se verificado que, na verdade, quando aprofundamos a investigação dos acidentes, concluímos que as falhas humanas são consequências de vários outros problemas de origem organizacional ou processos de trabalho. E chegar a essas conclusões não é tarefa fácil, pois pode vir a expor diversos problemas organizacionais que não querem ser encarados por muitos gestores, por julgarem ser de difícil solução. As principais justificativas para responsabilizar única e exclusivamente o trabalhador pelo acidentes incluem desejo de não expor a empresa e com isso prejudicar a sua imagem, falta de tempo para investigar os acidentes de forma mais profunda, falta de conhecimento técnico sobre o tema, dificuldade em ouvir os trabalhadores no dia a dia e acolher suas queixas e sugestões de melhoria, e por fim por se tratar do

caminho mais fácil. Afinal de contas, é mais fácil pôr a culpa no trabalhador do que ter que lidar com possíveis falhas no processo de trabalho que podem ter levado ao acidente. É claro que existem casos de acidentes intencionais e atos de sabotagem por parte de alguns trabalhadores, mas de fato esses casos são a minoria no panorama geral das ocorrências.

A pergunta chave para se aprofundar em uma investigação pós acidente é: O trabalhador que cometeu o ato inseguro tinha outra condição para realizar a atividade que não fosse aquela que gerou o acidente?

 

Estudo Dr. Hudson Couto

Norteado por essa pergunta, em 2017 o Dr. Hudson Couto publicou em seu livro Um novo olhar na prevenção de acidentes do trabalho, os fatores de risco ergonômicos identificados em 983 acidentes de trabalho ocorridos em empresas brasileiras de diversos setores.

O estudo teve como principal objetivo reanalisar todos os 983 acidentes selecionados. Destes, 405 acidentes apresentaram uma forte relação com os riscos ergonômicos, 41% da amostra.

A seguir estão os fatores de risco ergonômicos identificados no estudo:

  • Uso de ferramenta inadequada ou inexistente – 21% dos acidentes
  • Layout inadequado para atividade (gera compensações e posturas forçadas) – 18% dos acidentes
  • Padrão operacional da atividade não contemplava os padrões de ergonomia – 17%
  • Posturas forçadas da coluna – 16%
  • Sobrecarga física ou mental – 10%
  • Meio inadequado para manuseio de carga – 10%
  • Acessos inadequados (escadas e rampas) – 9%
  • Esforços intensos – 8%
  • Equipamentos ou máquinas inadequados – 7%
  • Visão comprometida – 7%
  • Alturas excessivas – 3%
  • Sobrecarga relacionada a jornada de trabalho – 3%

Também foi verificado que, mesmo cumprindo a tarefa prescrita, ou procedimento operacional, ainda sim ocorreram acidentes. Isso indica que os procedimentos possivelmente apresentavam falhas em relação à ergonomia e segurança do trabalho.

Considerações finais

Os resultados desse estudo nos revelam de fato um novo olhar sobre as causas dos acidentes de trabalho, e o quanto a ergonomia pode contribuir para o enriquecimento das investigações após acidentes, além contribuir na prevenção de novas ocorrências. Aplicar a ergonomia de concepção no planejamento das atividades operacionais é fundamental para se obter mais segurança e eficiência no trabalho.

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Grece Otero

Grece Otero

Sou Fisioterapeuta, especialista em Ergonomia com mais de dez anos de experiência no mercado. Ao longo da minha carreira, atuei em grandes empresas como Petrobras - Exploração e Produção, Petrobras - Gás e Energia, Petrobras - Sede Salvador-BA, Ford Camaçari, Elekeiroz, Cooper Standard, dentre outras. Em 2023 passei a atuar como Consultora, promovendo Saúde e Segurança para diversas empresas.

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